Retomando meu espaço depois de tanto tempo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lei da vida...

Semana passada faleceu meu avô. É supernatural se perder um avô, muito mais do que perder um sobrinho, mas, mesmo assim, isso não deixa de ser triste. Fiquei realmente abalada, não esperava que fosse assim, tão de repente... Um mês atrás ele ainda estava, digamos, bem... Começou a ficar ruim de saúde de repente, até que pegou uma pneumonia e não resistiu. 

Sempre foi um avô querido, não era de dar sorrisos largos, mas fazia suas graças... Puxava minhas orelhas, batia na minha cabeça e perguntava se estava nevando "aqui em cima" por eu ser mais alta que ele... Pedia pros meus pais para que eles não me dessem mais chá de bambu...

Ele era uma figura... Com mais de 80 anos fazia suas compras, estudava inglês sozinho, fazia sua fézinha na loteca, ia jogar buraco com os amigos... Ágil, forte.... Lembro quando ele foi passar uns tempos morando comigo na minha casa. Eu sempre tive o costume de ficar no meu quarto, escrevendo, escutando músicas e a janela era pra varanda da casa... Às vezes eu tomava susto porque ficava destraída e de repente, ele estava lá, quietinho na janela só me observando, me olhando... Dizia que eu estava tão linda que ele não queria me atrapalhar... Pedia pra que eu continuasse a fazer o que estava fazendo e não me importasse com ele ali... Quando ele percebia que eu ficava envergonhada, ele saía, dava uma volta, mas depois ia lá de novo me observar. Ficava sentado embaixo da mangueira no quintal com meu também já falecido cachorro Rex horas e horas pensando na vida, fazendo suas palavras cruzadas. Foram tão bons aqueles meses perto dele, ele me ensinou tanta coisa... 

Queria poder ter tido a oportunidade de conviver mais com ele, escrever suas memórias. Aos 17 anos fugiu de casa, foi viver sua vida, conheceu minha avó, casou-se. Teve 10 filhos. Logo após o nascimento do mais novo, largou vacas, pequeno negócio, casa, tudo, vendeu tudo, saiu do Piauí e veio pro Rio de Janeiro com a cara e com a coragem por acreditar que aquilo seria melhor para ele e pros seus filhos, pensou que talvez assim conseguiria dar uma vida mais digna pra eles. Que coragem... Passou muita dificuldade, muita humilhação, foi muito criticado, mas conseguiu. Todos os seus filhos conseguiram progredir, ou por suas próprias pernas, ou se casando com quem os desse condições. Teve vários netos e bisnetos. Perdeu filho, perdeu neto, perdeu bisneto. Sempre forte, o mais durão. Dentro daquela cabecinha chata ele até poderia ser durão, mas a delicadeza que meu vovô tinha comigo deixava bem aparente que aquilo era só por fora... Por dentro ele era um doce. Ele era pai da minha mãe, mas também se tornou pai do meu pai. Considerava ao meu pai como à um filho... Foi meu avô em dobro porque eu não cheguei a conhecer o pai do meu pai.

Quando eu percebi que já o estava perdendo, pensei comigo: "preciso dizer à ele que o amo muito antes que ele se vá". Um tempo atrás, antes de o alzheimer tomar conta totalmente de sua consciência, eu fui visitá-lo e levei minha filha para que ele a visse... Num momento em que estávamos sozinhos eu o abracei e disse: "o senhor é meu vovô querido e eu sinto muito sua falta". Ele me abraçou, segurou minha mão e me disse pertinho que eu era a neta querida dele. Eu sei que todas as netas são as netas queridas, mas aqui dentro eu sei que essa foi a nossa forma de dizermos um pro outro um "eu te amo"

Agora ele se foi mas deixou pra mim as lembranças, a saudade e uma lição que eu vou guardar pelo resto da vida: lutar pelos meus sonhos, mesmo que tudo for contra. Ele nunca me disse isso, mas se eu sou quem eu sou, foi porque um dia ele FEZ isso. 

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