Caneta na mão...

A Grande Verdade

Deus, cansado da mesmisse de sua vida, resolveu brincar com a sua criação e separou uma alma em dois pedaços pra ver o que acontecia. Um deles colocou no Céu para que fosse chamado de Anjo e que sempre buscasse sua outra parte, que foi mandada para o Inferno recebendo o nome de Demônio sem saber que fazia parte de uma criatura formada de duas partes.

O Anjo vivia de nuvem em nuvem, vagando sozinho, realizando sonhos, cuidando de quem deveria proteger, sonhando com o dia de encontrar sua outra parte e sempre se decepcionando ao perceber que sua busca talvez não tivesse fim, enquanto o Demônio ficava no Inferno, sofrendo por sentir que seu lugar não era ali e que poderia haver felicidade em outro lugar, apesar de aceitar sua condição por não saber que poderia mudar.

Um dia, Deus fechou seus olhos. Ao perceber que ele cochilou, o Demônio foi até a porta do Céu e de longe viu o Anjo sozinho e triste. O Anjo, percebendo a presença do Demônio e vendo aquele ser assustado, foi tentar ajudar.

Por muitas vezes, sempre que Deus dormia, o Demônio ia até as portas do Céu para conversar com o Anjo e disso nasceu uma grande amizade apesar do mundo e de todas as experiências de vida dos dois terem sido diferentes.

Todas as vezes que o Demônio voltava para o Inferno e tornava a sofrer seus castigos, só pensava que gostaria de estar perto do Anjo, porque ele tirava de suas costas toda a dor das suas feridas, enquanto o Anjo, toda vez que via o Demônio partir, apenas queria estar junto para amenizar aquele sofrimento porque sabia que seria capaz.

Algum tempo depois, o Anjo, com toda sua doçura e delicadeza, ganhou a confiança de Deus, que um pouco contra a vontade e querendo apenas agradar ao Anjo, permitiu que o Demônio fosse passar alguns momentos no Céu para que visse como era diferente e pra testar a reação de todos ao seu redor e a dele mesmo diante de tanta diferença.

Quando o Demônio entrou no Céu, viu na mesma hora que tudo que lhe doía, todas as feridas, marcas, mágoas e lamentos se foram e percebeu imediatamente que dali jamais queria sair, tendo certeza de seu sentimento ao ver nos olhos dos outros anjos de bom coração que eles apenas queriam sua felicidade e sentindo pela reação dos outros demônios o quanto essa felicidade causava inveja.

O Anjo, vendo a alegria do Demônio, mas sabendo que aquilo tinha data para terminar, fez de tudo para que todos os momentos e que os dois estivessem juntos fossem inesquecíveis.

O Anjo e o Demônio se conheceram e o que era amizade se transformou e o Céu começou a ficar escuro porque Deus percebeu a ousadia daquelas duas criaturas quando quiseram acabar com sua diversão tentando se unir novamente, ficando furioso!

Quando a hora da partida do Demônio de volta para o Inferno chegou, o Anjo derramou suas primeiras lágrimas percebendo que não adiantou dar o Céu para o Demônio, pois o sofrimento dele só se multiplicou.

O Demônio voltou para o Inferno triste, desiludido, mas renovado por conhecer um sentimento novo e por ter estreitado laços com quem ele sentia que seria único na sua vida.

O Anjo, não suportando a distância, juntou todos os outros anjos que conheciam aquele forte sentimento e foi encarar Deus para tentar saber a verdade e tirar o Demônio do lugar em que ele nunca mereceu estar, pois, no fundo, nunca fez mal suficiente para merecer aquele castigo eterno.

Deus tentou de todas as formas negar o que havia de verdade entre suas criaturas, mas vendo o desespero do Anjo e o sofrimento do Demônio, resolveu terminar a sua brincadeira, permitindo que eles voltassem a se unir.

Num momento único, o Céu e o Inferno se fundiram num lugar só e Deus, que se achava imensamente poderoso, viu seus poderes virarem pó ao perceber que nada poderia separar duas criaturas, que na verdade sempre foram a mesma, quando elas descobriram a grande verdade do universo: o amor.

- Escrevi em 20 de dezembro de 2008 -